Um plano de precisão para uma boa adubação
Hoje, a propriedade de Vale Pequeno de Baixo tem cerca de 600 hectares, 360 dos quais ocupados com eucalipto. Mas tudo começou em 1960, quando José Francisco Dias, pai de Pedro Dias, o atual proprietário, aproveitou o apoio do Fundo de Fomento Florestal para iniciar uma plantação de eucaliptos, chegando a ter 500 hectares ocupados com esta espécie, uma vez que, em contíguo, tinha mais duas propriedades – Vale Dom Pedro e Coruja – com a mesma plantação. Por estas duas últimas serem adjacentes ao Campo Militar de Santa Margarida, acabaram por ser expropriadas, em 1980.
Com a chegada da primavera, inicia-se o processo. “Aguardamos pelo fim das chuvas mais intensas e espalhamos o adubo, mas não o enterramos, fica só à superfície. Convém ser numa altura em que as temperaturas já se situem nos 15, 16 graus, que são propícias ao desenvolvimento da planta. Esperando sempre que não haja trovoadas grandes para não fazer lavagem do adubo!”, diz, especificando, depois, a precisão do plano: “No momento da plantação, fazemos adubação de libertação lenta; um mês depois aplicamos um superfosfato, à base de fósforo; e passados três anos fazemos a primeira adubação com o adubo ternário, que tem cerca de 20% de azoto, 10% de fósforo e 10% de potássio. Ao sexto ano aplica-se a segunda – e última – adubação”.
Se no tempo do pai a adubação era toda feita à mão, isso agora já não acontece. “A mecanização é feita com um espalhador pendular. O que fazemos é adubar carreira sim, carreira não. Nas barreiras começámos a fazer também com este equipamento, mas com uma máquina de rastos, para andar em terrenos inclinados”, explica o produtor florestal, de 63 anos, que, nos trabalhos, conta com a ajuda do operador Luís Lopes, de 38 anos. A trabalhar no Vale Pequeno de Baixo desde finais dos anos 80 do século passado, Pedro Dias tem uma estratégia de cultivo que segue com precisão.
“A primeira reflorestação que fiz foi em 1998. Cortei a primeira vez em 2010, pois trabalhamos com ciclos de 12 anos, não dá para menos. Tentamos levar até ao terceiro corte (36 anos) antes de reflorestar. A ideia é plantar entre 1.240 e 1.340 árvores por hectare, pois há sempre perdas. Todos os anos cortamos madeira e negociamos diretamente com a empresa compradora, que, nos últimos anos, tem sido a The Navigator Company”, diz.
Uma montra de boas práticas
O ex-líbris da propriedade de Vale Pequeno de Baixo é uma plantação de eucaliptos em corte que, em 12 anos de vida, nunca foi mobilizada. “Esta plantação é muito visitada. A estrutura do terreno nunca foi mexida, está tudo de forma natural. Quanto menos destruirmos o que está radiculado no solo, mais defesa as árvores têm no verão, porque sempre que gradamos o solo destruímos toda a sua estrutura, e é por esses caminhos abertos que a água se infiltra. Nesta plantação em concreto, nunca lá entrou uma máquina – os eucaliptos foram adubados ao quarto e ao sexto anos, sempre à mão”, sublinha Pedro Dias.
Pela singularidade que demonstra, esta plantação “tem sido uma montra para muita gente”, conta o proprietário. “A pessoa mais entusiasta com esta plantação específica é o engenheiro florestal José Rafael, da Navigator. Estudámos juntos e temos uma amizade especial, pelo que debatemos muitas ideias e trocamos informação sobre gestão florestal. Ele tem muitas ideias e seria bom se pudéssemos aplicá-las todas no terreno, mas cada propriedade é um caso específico”, acrescenta.
A relação com a Navigator não é formal, mas já conta com muitos anos de colaboração. “Não temos contrato, nem estamos ligados a nenhum programa, mas começámos a trabalhar tecnologicamente com a Navigator e o RAIZ em 1998, ano em que plantámos os primeiros clones. Temos uma ligação forte, e se me pedem para colaborar em algum projeto, faço-o”, refere, exemplificando: “Há um ano e meio, sob a coordenação do engenheiro José Rafael, e numa parceria com a Hubel Verde, espalhámos um biofertilizante azotado com pulverizadores, para levar o eucalipto a criar o seu próprio azoto. Foi uma experiência, ainda não tive acesso aos resultados. Mas estamos sempre abertos a seguir as indicações da Navigator, pois a investigação é um grande trunfo da empresa, e saímos todos a ganhar”.
Artigo publicado originalmente na revista n.º 14, de junho de 2024, que pode descarregar aqui.